domingo, 24 de janeiro de 2010

MUDANÇAS DE HABITO

Concordo com John Piper, na esteira de Paulo (1 Coríntios 9.24-27). “A vida cristã é um assunto tremendamente sério e os prêmios são infinitamente altos. O que você faz com a sua vida – a forma como corre sua corrida ou luta sua luta – fará a diferença entre participar das promessas do Evangelho e ser desqualificado. Fará a diferença entre alcançar ou não alcançar o prêmio da suprema chamada de Deus em Cristo. Fará a diferença entre receber ou não receber a coroa imperecível da justiça. A vida é uma coisa séria. A corrida da vida tem conseqüências eternas não porque somos salvos pelas obras, mas porque Cristo nos salvou das obras da morte para servir o Deus vivo e verdadeiro com uma paixão olímpica”. (John Piper)

Os hábitos nos habitam. Alguns são desenvolvidos em pessoas que não têm ambições na vida. Nessas pessoas, os hábitos podem ter a ver com a preguiça, com a falta de empenho. Vão levando a vida. Esses hábitos terríveis são destruidores e quem é assim deve olhar para a formiga, diz a sabedoria bíblica (Provérbios 6.6-11). Outros hábitos surgem, ao contrário, em pessoas que têm ambições, algumas com muitas ambições, o que as leva a hábitos que geram ações destrutivas. Trabalhar, por exemplo, é um hábito saudável; trabalhar compulsivamente é um hábito que destrói indivíduos, famílias e comunidades.

Há um outro tipo de hábito que navega também numa tensão. O hábito de falar da vida alheia decorre de um desejo muito útil: a curiosidade, natural em todo ser humano. Essa curiosidade acabou por se tornar um negócio, o negócio de bisbilhotar a vida alheia. Há profissionais da imagem e da reportagem dedicados a mostrar e descrever momentos nas vidas de pessoas consideradas famosas. Há leitores, ouvintes e telespectadores para este tipo de programa. Cuidado: ler, ouvir e ver programas desse tipo revela um pouco do caráter de quem lê, ouve e vê, mesmo sob a justificativa de isto não passar de um... passatempo.

John Wesley elaborou, em 1752 (!), um conjunto de regras sobre como lidar com a maledicência. Outro contemporâneo seu (Charles Simeon) fez o mesmo. Juntei os dois num decálogo:

1. Não darei ouvidos nem inquirirei voluntariamente sobre qualquer maledicência concernente a um de nós.

2. Se escutar algo maléfico com respeito a algum de nós, não acreditarei de imediato.

3. Comunicarei o que ouvi o mais breve possível, falando ou escrevendo, à pessoa em referência.

4. Não escreverei nem direi uma sílaba sequer daquilo que me foi dito a qualquer pessoa, seja quem for, antes do pleno esclarecimento do assunto. Depois disso, não mencionarei o que for comentado a qualquer pessoa.

5. Ouvirei a menor quantidade possível de coisas prejudiciais aos outros.

6. Não acreditarei em nenhuma delas, até que seja absolutamente forçado.

7. Nunca absorverei o espírito daquele que fala mal de outros e circula essas notícias.

8. Sempre moderarei, no que for possível, a crueldade expressa contra outros.

9. Sempre acreditarei que, se o outro fosse ouvido, o assunto seria relatado de maneira bastante diferente.

10. Não abrirei nenhuma exceção a qualquer uma destas regras.

Há um hábito que forma um par negativo com este: é o desinteresse pela vida alheia. Há pessoas tão concentradas em si mesmas que não se importam com a vida dos outros. Jamais falam dos outros, nem bem, nem mal, simplesmente porque as outras pessoas não lhes importam. O sofrimento delas não lhes importa. A dor delas não lhes importa. A fome delas não lhes importa. O drama delas não lhes importa. A salvação delas não lhes importa.

Os cristãos temos sofrido de um hábito terrível, que nega as bases da fé. Temos nos fechado. Nosso Evangelho é para nós mesmos. Em muitas situações, a diferença entre um clube e uma igreja cristã é meramente estética.

Como igreja, precisamos de ações mais concretas para fora e de menos programas para nós mesmos. E os programas para nós mesmos deveriam servir de capacitação para atuarmos onde Deus quer chegar.

Há ainda um outro tipo de hábito: a agitação e a passividade. Há pessoas que estão sempre correndo. Elas correm porque têm muito o que fazer. Elas correm quando não têm o que fazer. Entre os cristãos, muitos se perdem na tensão “ação versus oração”. Somos chamados a esperar no Senhor, mas também chamados a agir enquanto esperamos. Se muitos estão ocupados demais para ler a Bíblia e orar, outros pensam que, se fizeram isto, tudo lhes virá.

Numa vida cristã saudável, oração e ação estão em equilíbrio. Quem quer ouvir Deus precisa se calar. Quem quer espalhar Deus precisa falar. Só há sentido em uma pessoa se ajoelhar diante do Senhor, se, após a oração, ela se põe de pés para obedecer ao Senhor. Quanto mais oração, mais ação – esta é a síntese das vidas dos santos verdadeiramente santos.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

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